ChatGPT passou no reCAPTCHA?
- Pedro dos Santos
- 28 de ago.
- 4 min de leitura

Resumo rápido: nas últimas semanas, o novo ChatGPT Agent virou notícia ao clicar sozinho no “I’m not a robot” durante uma tarefa na web: um tipo de verificação usado por Cloudflare/Google. Isso não foi truque: agentes modernos já conseguem navegar, clicar e preencher formulários como um utilizador humano. Ao mesmo tempo, estudos académicos recentes mostram que modelos de visão resolvem reCAPTCHAv2 de imagens com taxa de acerto de ~100%, minando a própria premissa dessas barreiras.
O que houve exatamente?
OpenAI lançou agentes “computer-using”: modelos que usam um “computador virtual” para abrir sites, clicar botões, escrever texto e tomar decisões passo a passo. É o caso do ChatGPT Agent e do Computer-Using Agent (CUA), anunciados em 2025.
Flagra público: numa demonstração amplamente replicada pela imprensa, o agente clicou o checkbox “I’m not a robot” e prosseguiu a tarefa, atitude típica de um utilizador humano.
Contexto importante: isto não prova que o ChatGPT “resolveu todos os CAPTCHAs”. Mostra que testes simples baseados em interação (ex.: um único clique) podem ser vencidos por um agente com mouse/teclado virtuais. Já desafios visuais complexos (ex.: “selecione todos os semáforos”) dependem de visão computacional, e aí entra a pesquisa acadêmica.
Mas e os desafios com imagens?
Em 2024, investigadores da ETH Zurich publicaram “Breaking reCAPTCHAv2”, relatando um sistema com 100% de sucesso a resolver os puzzles de imagem do reCAPTCHAv2, usando modelos recentes de detecção/segmentação (YOLO) e engenharia do fluxo do desafio. O trabalho também indica que o score de risco do reCAPTCHA usa fortemente cookies e histórico do browser, o que pode ser contornado por bots bem configurados.
Então… “o ChatGPT passou o reCAPTCHA”?
Resposta curta
Sim para verificações simples (ex.: checkbox Cloudflare/“I’m not a robot”) quando o agente tem permissão para clicar e continuar, o que foi observado em demonstrações reais.
Para desafios de imagem, o “ChatGPT” por si só não é o ponto: pipelines com visão (incluindo modelos multimodais) já superam reCAPTCHAv2 de forma consistente segundo a literatura. O estado da arte mostra que CAPTCHAs tradicionais perderam eficácia.
Por que os CAPTCHAs estão falhando
Modelos de visão “super-humanos” em tarefas de reconhecimento (objetos, texto distorcido, padrões) tornam puzzles visuais triviais para máquinas.
Análise de risco baseada em sinais de browser/cookies pode ser imitada por bots com perfis e fingerprints credíveis.
Economia do crime: “fazendas de CAPTCHA” e APIs de resolução custam centavos por milhar, baixando a barreira de abuso.
Agentes com “computador” automatizam fluxos multi-passo (login, clique, scroll), reduzindo a fricção onde antes bots tropeçavam.
O que muda para a sua empresa (e para os seus formulários)
Riscos imediatos
Mais spam e fraudes em formulários de contato, comentários e registos.
Abuso de campanhas (cupons, testes gratuitos) e ataques de stuffing (tentativas de login com credenciais vazadas).
Custo operacional crescentes (moderação, chargebacks, reputação).
Medidas que funcionam em 2025 (para além do CAPTCHA)
Bot management “completo” (Cloudflare, CDNs ou WAFs empresariais) com fingerprinting robusto, deteção comportamental e rate limiting por ação.
Substitua CAPTCHA por “invisíveis”/baseados em atestação, como o Cloudflare Turnstile (integra sinais do browser e Private Access Tokens; sem treino de anúncios, melhor UX).
ReCAPTCHA v3/Enterprise bem configurado: trate o score por ação (signup, checkout, reset de senha) e combine com políticas (bloquear, desafiar, analisar).
Autenticação moderna: WebAuthn/Passkeys e MFA para criar/entrar em contas — CAPTCHA não foi feito para impedir ataques a contas.
Controles de fluxo: limites por IP/dispositivo/ASN, cool-downs e proof-of-work leve em endpoints sensíveis.
Honeypots e sinais de UX: campos escondidos, medição de cadência de digitação, detecção de pastes anómalos e do contexto da navegação.
Observabilidade: dashboards por ação (v3) e canários (URLs “armadilha”) para medir quanto abuso escapa.
Guia prático: checklist para equipes de marketing, produto e TI
Mapeie endpoints expostos (contacto, orçamento, trial, newsletter, exportações).
Troque CAPTCHAs visuais por Turnstile ou equivalente e ative scoring por ação no reCAPTCHA v3/Enterprise onde necessário.
Aplique rate limiting e desafios progressivos (só para tráfego suspeito).
Implemente Passkeys/MFA nos fluxos de autenticação e recuperação.
Monitore conversões vs. bloqueios (evite falsos positivos) e regule políticas semanalmente.
Teste com agentes (internos) para descobrir pontos fracos antes dos atacantes.
Perguntas frequentes (FAQ)
1. O ChatGPT “quebra” qualquer reCAPTCHA?
Não. O que vimos foi o agente clicar um checkbox de verificação humana e seguir adiante sem desafio visual. Para puzzles de imagem, a evidência científica mostra que sistemas de visão conseguem taxas de acerto altíssimas; isto é mais amplo do que “o ChatGPT” em si.
2. Então acabou a utilidade de CAPTCHA?
Para bloquear bots modernos, CAPTCHAs isolados já não bastam. O caminho atual é gestão de bots multimodal, atestação de dispositivo, scoring por ação e controles de fluxo, tudo isso com o mínimo de fricção para humanos.
3. Há provas independentes?
Sim. Além da cobertura jornalística sobre o agente a clicar no “I’m not a robot”, o estudo da ETH Zurich reporta 100% em reCAPTCHAv2 (imagem). Outros artigos de 2024–2025 reforçam que CAPTCHAs clássicos estão obsoletos.
4. reCAPTCHA v3 é melhor?
É diferente: opera por score de risco, que você deve consumir por ação e orquestrar com políticas (permitir, desafiar, rever). Não elimina bots sozinho, mas integra-se bem num “stack” de segurança.
Conclusão
Sim, agentes como o ChatGPT já “passam” verificações simples de humanidade e a pesquisa mostra que puzzles visuais deixaram de ser barreiras confiáveis. Para empresas, a resposta não é “um CAPTCHA novo”, mas arquitetar anti-abuso como um produto: combinar gestão de bots, atestação, score por ação, rate limiting e autenticação moderna, sem matar conversões.
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