Malefícios da IA: Usar Inteligência Artificial nos Deixa “Burros”?
- Pedro dos Santos
- 3 de jul.
- 8 min de leitura

Por que esse debate emerge e o que ele realmente significa para empresas e profissionais
A pergunta que muitos têm formulado: “Será que a inteligência artificial (IA) nos deixa mais burros?”, aparece em palestras, artigos e conversas corporativas. A resposta curta é: não necessariamente. A IA não nos condena ao emburrecimento automático. Mas, ao mesmo tempo, há sim riscos concretos de “desgaste” de certas habilidades humanas se sua aplicação for mal desenhada.
Neste artigo, vamos explorar esse tema com profundidade: por que essa polêmica surge agora, como compará-la com revoluções tecnológicas anteriores, quais são os malefícios da IA reais e evitáveis, e como, com boas práticas, a IA pode ser uma aliada formidável. Para quem está no universo de agentes de IA, chatbots e automações inteligentes, entender essas nuances é fundamental.
O contexto: por que se pergunta se a IA nos torna “burros”?
Vivemos uma era de adoção acelerada de sistemas de IA, especialmente agentes de linguagem, automações de rotina, assistentes de tomada de decisão, e muito mais. Em empresas de todos os tamanhos se busca implementar agentes de IA que respondem usuários, automatizam processos e antecipam solicitações. O impulso é real: eficiência, velocidade, escala.
Mas junto a esse impulso vem uma sombra: a dependência excessiva da tecnologia, a substituição de habilidades humanas e a possível perda de prática naquilo que tradicionalmente exercíamos. Por exemplo, um estudo recente apontou que usar IA generativa no trabalho pode reduzir o esforço de pensamento crítico:
“Quando as pessoas dependem de IA generativa […] seu esforço se desloca para verificar se a resposta da IA é boa o suficiente […] em vez de usar habilidades de pensamento crítico de nível mais elevado.”
Outro estudo sobre automação e IA aponta que o uso de sistemas automatizados pode levar à “desatenção humana”, por exemplo, pilotos usando piloto automático esquecendo de monitorar corretamente o voo.
Assim, a hipótese de “emburrecimento” ganha tração. Mas antes de concluir que a IA nos torna menos capazes, é vital ver esse debate dentro de uma perspectiva histórica e tecnológica.
Comparando com outras revoluções tecnológicas
Por que sempre houve esse medo e por que ele nem sempre procede
Quando se olha para as grandes revoluções tecnológicas do passado, o padrão é recorrente: surge uma nova tecnologia que promete libertar o ser humano de tarefas pesadas ou repetitivas e imediatamente aparece uma pergunta: “será que isso vai enfraquecer nossa capacidade?”
Alguns exemplos:
A invenção da imprensa no século XV liberou muitos da necessidade de copiar manuscritos, o que fez surgir temores de que a “memória humana” fosse minguar.
A chegada da calculadora e, mais tarde, da planilha eletrônica (anos 70–80) fez com que muitos se perguntassem se as pessoas ainda precisariam saber contas de cabeça ou montar modelos à mão.
O surgimento da internet e dos motores de busca: no famoso artigo Is Google Making Us Stupid? (2008) o autor Nagum Carr levantou se o ato de buscar informações online está diminuindo nossa profundidade de leitura e reflexão.
Todas essas tecnologias trouxeram benefícios enormes: maior acesso à informação, automação de tarefas, ganho de escala, mas também desafios: por exemplo, memorização virou menos central, pensar “do zero” tornou-se menos necessário em muitas atividades, e surgiram debates sobre se estaríamos “perdendo” algo.
Com a IA a situação é similar, porém com algumas diferenças: a velocidade de adoção, o nível de autonomia dos sistemas, e a natureza cognitiva (linguagem, pensamento, análise) dos agentes de IA geram uma inquietação particular.
Importante: as revoluções tecnológicas não resultaram automaticamente em “menos inteligentes” ou “incapazes” os seres humanos. Elas mudaram quais habilidades são mais relevantes, como as usamos, e o que se espera de nós. A IA seguirá esse padrão, mas exige que façamos a transição com consciência.
Quais são os possíveis malefícios da IA?
Quando falamos de malefícios da IA, é importante distingui-los: não se trata de a IA “ser má” por si só, mas de como seu uso (ou abuso) pode gerar efeitos negativos. Vejamos os principais:
1. Erosão de habilidades cognitivas / críticas
Como mencionado, há evidências de que usar IA como “atalho” constante pode levar ao enfraquecimento de certas capacidades humanas de análise, criação e julgamento. O estudo publicado em Cognitive Research apontou que:
“A automação também pode levar a vieses e à complacência [...] os usuários tendem a favorecer informações provenientes de sistemas automatizados […] mesmo quando as recomendações entram em conflito e as sugestões automatizadas são imprecisas.”
Quando confiamos demais e paramos de exercitar o “pensar” por nós mesmos, corremos o risco de perder o “músculo” do raciocínio. Isso não significa que a IA nos torne estúpidos, mas sim que algumas vias cognitivas podem ficar pouco ativadas.
2. Dependência tecnológica e “operação de botão”
Se uma empresa passa a depender de agentes de IA para tarefas que antes eram realizadas por humanos, sem desenvolver boas práticas de supervisão, verificações ou envolvimento humano, há risco de:
perda de familiaridade com o processo
queda na capacidade de reagir se o sistema falhar
desmotivação/alienação do humano que fica “apenas supervisionando”
Um exemplo: um relatório alertou para o fenômeno de “skill erosion” (erosão de habilidades) em que funcionários, habituados a automações, não mais conseguiam executar tarefas básicas quando o sistema era removido.
3. Substituição ou deslocamento de habilidades?
A adoção de IA impacta o mercado de trabalho e a demanda por certas habilidades. A pesquisa “Complement or substitute? How AI increases the demand for human skills” mostra que enquanto habilidades tradicionais de rotina tendem a declinar, habilidades complementares à IA (p. ex., pensamento crítico, criatividade, ética digital) ganham relevância.
4. Viés, transparência e supervisão reduzida
Não raro, sistemas de IA operam como “caixas-pretas”. As equipes podem confiar em respostas automáticas sem entender como foram geradas, o que abre espaço para erros não detectados. Esse viés de automação (“automation bias”) ocorre quando o humano confia excessivamente no sistema, deixando de exercer controle crítico.
5. Falta de agência humana e motivação
Outro malefício sutil: quando tarefas são automatizadas em excesso, pode haver redução no senso de agência, na motivação e no envolvimento humano. Um estudo recente encontrou que níveis mais altos de automação se associaram a menor “sense of agency” (sentido de agir) e menor tomada de riscos.
Por que, então, a IA não nos “torna burros” se for bem usada?
Apesar desses riscos, é fundamental destacar o seguinte ponto: a IA é uma ferramenta, e como toda ferramenta ela pode ser usada de maneira a multiplicar capacidades humanas ou, ao contrário, suprimir seu desenvolvimento. A chave está no design, implementação e cultura de uso.

IA como amplificador de capacidade humana
Em contextos bem desenhados, a IA complementa o humano. Ela assume tarefas repetitivas ou de rotina, liberando as pessoas para focar no que realmente exige inteligência humana: criatividade, empatia, julgamento, adaptação. Um estudo recente mostra que o efeito de complementaridade da IA (ou seja, IA que potencializa habilidades humanas) pode ser até 50% maior do que o efeito de substituição.
A consultoria McKinsey & Company aponta que até 2030 se espera crescimento de 50% no uso de “advanced technological skills”, ou seja: aqueles que entendem, adaptam e inovam com a IA serão valorizados.
Em empresas que implementam chatbots e automações de IA, há ganho de produtividade e, ao mesmo tempo, transferência de know-how: agentes de IA ajudam a difundir práticas melhores e aceleram a curva de aprendizado de funcionários menos experientes. (Exemplo citado em reportagem da Financial Times).
Por que a competência humana continua insubstituível
A profunda intuição humana, o entendimento de contexto, o senso moral, a empatia e o julgamento ainda são áreas muito difíceis para a IA replicar. Um estudo de revisão sobre IA e trabalho humano concluiu que “A IA […] tem dificuldade em imitar empreendimentos criativos e inteligência emocional […] lembrando-nos de que a essência da experiência humana é insubstituível.”
O “Paradoxo de Polanyi” indica que parte de nosso conhecimento é tácito, difícil de formalizar e isso ainda limita a IA em muitos contextos.
Adicionando uma camada técnica, podemos trazer à tona o problema P vs NP da teoria da complexidade, que pergunta se todos os problemas cujas soluções podem ser verificadas em tempo polinomial (classe NP) também podem ser resolvidos em tempo polinomial (classe P). Se P≠NP, hipótese majoritária, então existem problemas que, embora seja eficiente verificar uma solução (um humano ou sistema facilmente aponta “ok, isso funciona”), não há um algoritmo eficiente conhecido para encontrá-la em todos os casos.
Como as tarefas que dependem de conhecimento tácito ou muitos “valores de entrada” imprevisíveis tendem a se assemelhar mais a problemas para os quais “achar a solução” é muito mais difícil que “verificar a solução”, podemos usar a analogia ao P vs NP e suspeitar que automatizar plenamente tais tarefas pode se tornar inviável ou impraticável num horizonte razoável, por isso, algumas habilidades humanas podem manter-se “além da automação”.
O papel do design de automação
A diferença entre IA que “substitui” versus IA que “potencializa” é crucial. O risco está mais no design pobre e nas expectativas irreais do que na tecnologia em si. No editorial da ACS-Austrália “Is AI making us dumber?”, o Prof. Raffo afirma: “Temos um problema real […] quando as ferramentas fazem o trabalho, as pessoas não aprendem as habilidades.”
Logo, a IA torna-se prejudicial quando utilizada como “preguiçosa” substituta de pensar. Mas quando usada como assistente para amplificar a capacidade humana e aí sim, pode fazer diferença de forma positiva.
Estrutura sugerida para empresas que implementam IA e como evitar os malefícios da IA e maximizar o valor
Para empresas e times que trabalham com automações, agentes de IA e chatbots inteligentes, segue uma estrutura recomendada:
Mapear tarefas e habilidades humanas antes da IA: Entenda quais tarefas são repetitivas, rotineiras ou de baixo valor agregado e quais dependem de julgamento humano, criatividade ou empatia. Pergunte: “Se automatizarmos isto, que habilidades humanas restam? Vai sobrar algo para o humano exercer ou ficará só supervisão?”
Definir o papel da IA como complemento, não substituto: A automação de IA ideal é aquela onde o humano e a máquina colaboram. O agente de IA cuida da parte mecânica (respondendo perguntas simples, triagem, coleta de dados) e o humano cuida da parte analítica ou emocional. Exemplo: um chatbot internamente que faz o pré-atendimento e então encaminha ao humano com contexto enriquecido.
Desenvolver habilidades humanas complementares: Com a IA no lugar, o que mais importa agora são habilidades como pensamento crítico, ética digital, supervisão de IA, criatividade e adaptabilidade. Um estudo mostra que essas habilidades complementares veem alta demanda na era da IA. Invista em treinamento para que equipe humana saiba interagir com a IA, tenha controle dos resultados e mantenha o “músculo do pensar”.
Manter supervisão, medição e ciclo de feedback
Crie indicadores não apenas de eficiência (ex: número de atendimentos por hora) mas também de qualidade humana (ex: grau de satisfação, nível de julgamento humano empregado).
Realize auditorias regulares para garantir que a IA não está gerando respostas erradas que o humano está aceitando sem crítica (evitando automação-bias).
Promova cultura de que a IA auxilia, mas o humano valida. Isso evita complacência.
Preservar a trajetória humana de aprendizado
Em processo de onboarding ou treinamento, permita que novos colaboradores executem tarefas “à moda antiga” para entender o processo completo antes de usar a IA como atalho.
Assim, se a automação for removida ou falhar, a equipe ainda saberá o que fazer, evitando o risco de “skill erosion”.
Estimule o uso da IA como “buddy” de estudo, “coach” interno, e não como “fazedor automático”.
Comunicar a proposta e controle humano
Transparência sobre onde a IA está sendo usada e quais são os limites esperados. Isso gera confiança interna e externa (clientes).
Estimule o humano a perguntar: “Por que a IA sugeriu isso?” ou “Como esse resultado foi obtido?” promovendo engajamento e crítica saudável.
Síntese: o que podemos concluir?
A IA não nos torna burros automaticamente. Mas se for usada de modo passivo, como substituta de pensar, pode levar à atrofia de certas capacidades humanas (crítica, análise, adaptação).
Os “malefícios da IA” não advêm da tecnologia por si, mas do mau uso, da ausência de design humano-centrado e da falta de cultura de supervisão e aprendizagem.
Historicamente, todas as grandes revoluções tecnológicas provocaram debates semelhantes e o que mudou não foi a inteligência humana, mas que tipo de inteligência era valorizada.
Para empresas que implementam automações e agentes de IA, o desafio é claro: utilizar a IA para potencializar e ampliar capacidades humanas, não para substituir ou reduzir o humano a um simples apertador de botões.
O caminho é aplicar IA de forma estratégica, com foco em complementaridade, treinamento humano, transparência, e supervisão crítica.
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